texto de Ju Kaneto e Júlia Conterno
Enquanto mulheres trabalhadoras da cultura, atuando principalmente nas áreas da gestão e produção cultural, o tema desta convocatória nos atravessa de diferentes formas. Somos o AVESSO, por vezes em papéis invisíveis, por trás dos holofotes, por dentro da engrenagem. Fazemos parte das áreas sub-representadas na produção e difusão do conhecimento nas artes e na cultura. Encaramos este chamamento como um convite a estilhaçarmos o bloco sólido da linguagem acadêmica e a rigidez de seus espaços de circulação, para irmos além, para dentro, nas profundezas das vísceras e para fora, na busca pela inteireza.
Primeiro, façamos nossa apresentação: nascemos em 2017 como um coletivo feminista de cinco mulheres que trabalham com arte e cultura no interior do estado de São Paulo, em Campinas. Somos o coletivo Caju Cultura. Atuamos com gestão e produção de grupos de diferentes linguagens artísticas, com criação e execução de projetos e com produção de conhecimento na área da gestão cultural. Trata-se de uma experiência que se constrói com o olhar para o interior, ainda que do estado mais rico do Brasil.
Cada uma de nós traz um acúmulo de experiências bastante diversas. Além da formação em artes cênicas, no teatro de grupo, temos ainda uma psicóloga e uma engenheira que dançam, cantam e escrevem. Estamos entre a academia e o saber que se faz na prática e nos encontros, passando pela militância política, estudos de permacultura e agrofloresta, o gosto por chás e infusões e pelas trocas de receitas, acolhimento e afeto.
Nosso encontro se deu a partir do desejo de compartilhar experiências e perrengues, enfrentar opressões, refletir sobre o nosso trabalho e definir fronteiras que nos protejam nas relações profissionais. Descobrir juntas uma forma diferente de trabalhar com cultura. Foi um movimento para sermos menos solitárias e aumentar o volume da nossa voz.
Buscamos uma maneira de trabalhar que nos inclui por completo, sem deixar de lado nenhum pedaço. Os afetos e emoções, as vivências pessoais, os conflitos inerentes ao ato de estar viva. Se por um lado estes elementos são um estorvo à ordem patriarcal e capitalista, pra gente eles não apenas têm espaço para existirem, como são legitimados e transformados. Antes, pontos fracos. Agora, potências que melhoram a qualidade de nossa atuação profissional. Abrimos portas e janelas para o afeto fluir em nossas reuniões, nos trabalhos com os grupos, em nossas parcerias. Esta é a nossa força!
Hoje, depois de quase 4 anos, celebramos a nossa caminhada com o projeto Crie como quem Luta, contemplado pela Lei Aldir Blanc, idealizado e realizado pelo
Publicado originalmente em https://revistalabcenas.bogum.com.br/2021/04/06/a1e1cajucultura/
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